O médico solicita, com voz doce e pausada, que o novo paciente respire fundo, para que ele possa avaliar seus pulmões. Com seus 97 anos, e um bocado de desconfiança, o paciente se põe a respirar superficial e rapidamente. Insatisfeito, e se distraindo com a paisagem da manhã de primavera destacada na janela, o doutor pede, pacientemente:
-Mais devagar, por favor, não há pressa! .
A resposta é imediata:
-O senhor pode não estar com pressa, mas ainda tenho muito o que fazer e não vejo a hora de sair por aquela porta!
Presente à consulta, o neto procura justificar a resposta meio atravessada do avô, dizendo que eles haviam programado um dia cheio...
O uso do tempo é mais do que uma opção pessoal. Caetano Veloso, em sua composição Oração ao Tempo, define esse senhor como “compositor de destinos”. Exatamente como uma melodia, em que o artista encontra inspiração em seu íntimo, e quer nos dizer algo.
O tempo não impõe, mas reclama.
Será que estamos aproveitando o destino, com que o tempo nos abarcou? O que o seu “compositor” quer dizer a cada um de nós?
A humanidade passa por um momento em que ações são exigidas e serão cobradas. Temos que viver como se estivéssemos em uma tempestade no mar, em que mantemos no barco apenas o que é realmente importante, para não afundarmos. E não podemos nos descuidar dos remos, que podem nos levar para a terra firme.
E você? O que tem feito com seu tempo?
Temos que envolver nossos remos em boa dose de fé, confiando em um mundo muito melhor. Não há outra saída.
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