Incomoda e exige respostas, em especial nos dias de hoje, a conscientização crescente sobre a falta de diálogo entre a ciência e a fé nos bancos universitários. Estudantes de medicina e de outras áreas da saúde têm pouca ou nenhuma formação em cuidados espirituais.
Cientes de que Deus é o alimento que nutre nossa alma, conforme colocação luminosa de Agostinho de Hipona, precisamos primeiro aprender sobre o Verbo para, bem posteriormente, conseguirmos entender o destino dos homens. Unir a fé e a razão em situações do cotidiano, como, por exemplo ajudando aqueles que sofrem por motivos de doença em entes queridos, parece-nos ser responsabilidade da comunidade. Uma responsabilidade de todo cristão.
Referindo-se aos quadros demenciais, existe uma responsabilização necessária de filhos também frente a doenças de seus pais, mesmo em momentos em que a vida de todos parece arquejante, pesada demais para se manter o equilíbrio. O Estatuto da Pessoa Idosa assegura os direitos de pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, e determina os deveres de filhos.
Mas, deixando em plano inferior a ideia de punição, alertada na lei, e apoiando-se em Kant, filósofo prussiano do século XVIII, podemos concluir que seria muito mais adequado tentar colaborar com essas famílias, para que aceitassem a reponsabilidade de cuidar de seus idosos por escolha própria, sem pressões. Somente uma comunidade fortalecida pela fé pode compreender o que isso significa, e colaborar para esse fim.
A questão apoia-se justamente na presença marcante de quadros demenciais nos dias de hoje. A inversão demográfica, verificada no mundo todo, acompanhada da transição epidemiológica, mostra a diminuição de doenças e morte por infecções, e aumento de patologias crônicas não transmissíveis, como o diabetes, a hipertensão arterial, as demências, e outros quadros. As pessoas vivem mais devido aos progressos científicos e saneamento básico. Mas a longevidade está acompanhada de problemas que ainda preocupam. Temos uma queda do número de nascimentos, o que provoca uma alteração na pirâmide demográfica.
A Doença de Alzheimer é uma patologia que destrói, progressivamente, funções mentais importantes, em especial a memória. Chama a atenção a marcante característica de progressão da doença, que favorece o desequilíbrio, não só da saúde física do paciente acometido, mas também da saúde emocional de familiares e cuidadores, que muitas vezes têm suas forças esgotadas pela impossibilidade de gerenciar os desafios que se apresentam.
As famílias que enfrentam essa doença passam por inúmeras fases de comportamento, que mesclam dúvidas, medo, insegurança, irritação, desânimo, força.
Na Bíblia, muitas são as passagens que exortam a fé e a oração. Na Epístola aos Romanos, 15:13, Paulo nos coloca:
"Que o Deus da esperança vos cumule de alegria e de paz na fé, a fim de que transbordeis de esperança, pelo poder do Espírito Santo".
Em 2 Coríntios 1:3-5, temos:
"Bendito seja Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação; ele nos consola em todas as nossas tribulações, para nos tornar capazes de consolar todos os que estão na tribulação, pela consolação que nós mesmos recebemos de Deus. Com efeito, assim como os sofrimentos do Cristo são abundantes para nós, assim também, pelo Cristo, é abundante a nossa consolação".
Mas, de onde vem a fé? Como um sentimento tão poderoso e nada concreto pode ser explicado?
Parece haver uma estreita ligação com a intuição, já que é mais difícil acreditar em algo não palpável para aqueles que usam preferencialmente a razão, em um raciocínio mais elaborado.
A fé é tão importante para a evolução humana, que já foi sugerido, por estudiosos, que ela estaria "no gene de Deus".
Estudos foram realizados em seres humanos, que mostraram que aqueles que mostravam sentimentos religiosos apresentavam um gene relacionado com hormônios que aumentam seus níveis em situações místicas.
A religião e a fé estimulam a solidariedade e a compaixão.
De certa forma, parece haver uma certa "vantagem" para aqueles que têm fé. Parece mais fácil enfrentar as situações e mais fácil tocar o dia a dia.
Não é necessário sair por aí procurando pela fé. Boas leituras, boas conversas, ações no bem são sempre estimuladores desse sentimento. Mas se você acha que não tem fé, responda: como existiriam a amizade, o amor entre familiares, as relações sociais, sem a fé? É um questionamento de Agostinho de Hipona, e pode ser nosso também. Um tema que não se esgota, se pensarmos na situação da doença de Alzheimer ou em qualquer tribulação.
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