A inversão demográfica, verificada no mundo todo, deve valorizar dados colhidos diretamente das experiências de pessoas idosas, de maneira a transformá-los em informação, que favoreça estudos sobre longevidade e sobre autonomia e independência.
Registramos na literatura inúmeros estudos sobre a percepção de pessoas idosas em relação ao seu próprio estado de saúde. Trata-se de avaliação difícil, já que muitos são os aspectos que influenciam a resposta. Mas esta característica não diminui a confiabilidade dos estudos, mostrando que a visão pessoal do idoso, associada à observação direta das condições de vida e de saúde do mesmo, feita por profissional habilitado, favorece a criação de planos de cuidado e a elaboração de Políticas de Saúde.
Na prática, verifica-se que a inclusão de esperança e alegria favorece a longevidade e reduz agravos de doenças prováveis.
A perda de funcionalidade favorece a morbidade e a mortalidade. Medidas que visem identificar fatores que favoreçam a perda de funcionalidade, e ações de priorização da prevenção e do tratamento de causas dessa perda, devem ser um grande desafio neste século.
O caráter complexo do ser humano deve valorizar todos os registros que possam colaborar com essa imensa teia de informações que chamamos de vida. Dessa forma, parece que as experiências adquiridas no decorrer da vida podem ser valiosas na recuperação do prazer de viver.
O envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, que vão alterando progressivamente o organismo, tornando-o mais suscetível a agressões intrínsecas e extrínsecas que terminam por levá-lo á morte (PAPALEO NETTO, 2002).
O envelhecimento não é apenas um acontecimento populacional, mas também uma experiência individual (Fernández-Ballesteros, 2004), experiência que deve ser valorizada, influenciando a qualidade de vida. Cada pessoa, independente de sua idade, traz registros que em muito influenciam a maneira de vivenciar seus momentos. Tais registros podem estar relacionados com diversos fatores e as experiências vividas no passado, como as alterações fisiológicas, as condições psicológicas e sociais, o nível educacional, a capacidade física, as condições de moradia, e também as atitudes e crenças pessoais (SQUIRE, 2002).
Envelhecer de forma saudável significa viver de forma positiva, e dentro da realidade, durante esta fase do desenvolvimento humano. Envolve o equilíbrio da adaptação das capacidades individuais, da satisfação e valoração da vida, mesmo com as perdas, que surgem ao longo dela (LAGE, 2007).
De acordo com Patrício (2013) envelhecer bem envolve a presença de diferentes capacidades pessoais e de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Isso não significa destacar obrigatoriamente a doença ou incapacidade, mas significa que o indivíduo, ao enfrentar as perdas e ao se adequar às possíveis mudanças, contribui para a sua qualidade de vida e seu bem-estar pessoal.
Verifica-se que a percepção abstrata de saúde forma–se com a interpretação pessoal que os indivíduos fazem de sua própria saúde. Essa percepção está diretamente relacionada com a maneira como as pessoas lidam com decepções e fracassos, e ainda parece estar relacionada com as condições físicas e com o comprometimento funcional do indivíduo (SILVA et. al,2012).
A capacidade funcional reflete a capacidade de uma pessoa resolver-se sozinha. Mesmo que sejam atividades corriqueiras como ir à igreja e fazer compras, ou receber visitas, essas atividades refletem a manutenção da capacidade funcional. Representam a autonomia e independência nas atividades de vida diária, associadas à qualidade de vida. (ROSA et.al. 2003).
A percepção sobre saúde muda também frente à variabilidade com que as doenças afetam a capacidade funcional, afetando o risco de morte dessas pessoas. É justamente pela auto percepção que a pessoa idosa avalia seu prazer de viver e suas potencialidades. Com isso, a experiência cotidiana, apresentada por análise de fenômenos sociais, pode oferecer informações que norteiem políticas de atenção, nas diferentes frentes de trabalho com a pessoa idosa.
Começa com o contato, um profundo e interno contato. O primeiro amigo que tivemos é quando nascemos. O primeiro amigo com o qual estabelecemos um compromisso que nos reconecta aos nossos valores pessoais e inteligências múltiplas é o fato de nos sentirmos nossos próprios melhores amigos.
(Equoterapia Holística: reeducar de forma ecológica e integrada para uma nova era de consciência – Claudia Tannus de Mesquita´- Brasil – trabalho apresentado no XII Congresso Internacional de Equoterapia, Brasília, 2006).
A presença de limitações na realização de atividade de vida diária está diretamente relacionada à percepção negativa da própria saúde em idosos. Silva, em estudo de base populacional com delineamento transversal realizado em 2009 em três cidades brasileiras, concluiu que o elemento essencial mediador da auto avaliação pessimista da saúde pode ser a própria dependência, sugerindo que o declínio na capacidade funcional possa ser o maior indicador, para o próprio indivíduo, de sua condição na velhice (Prevalência e fatores associados à percepção negativa de saúde em pessoas idosas no Brasil – Silva, R.J.S et.al., Revista Brasileira de Epidemiologia, 2012;15(1): 49-62).
A endorfina é conhecida como a droga da felicidade. Atua como um calmante natural, pois alivia a sensação de dor. Trata-se de neurotransmissor produzido pela hipófise, e se relaciona com sensações de prazer, potencialmente presentes em momentos como alimentação, exercícios físicos, sexualidade e outras condições que causam bem-estar (GUYTON, 1997).
Se o que sentimos é fundamental, precisamos higienizar pensamentos para produzir bem-estar. E o bem-estar reflete-se na percepção que se tem da própria saúde, seja na presença ou na ausência de patologias. Dessa forma, ficam em segundo plano os conceitos rígidos que envolvem a saúde, descritos pela ciência e enraizados na cultura dos seres, que se assustam com a doença. Além disso, o bem-estar não pode existir separadamente da liberdade de se viver e agir por conta própria. Todos os recursos que valorizem a funcionalidade favorecem o prazer de viver, que transforma opiniões sobre o que sentimos sobre nós mesmos.
O uso dos sentidos resulta em experiências, e estas norteiam pensamentos e ações individuais. A construção desse mundo próprio, inserido em um todo universal, favorece a realização pessoal. Pode-se alcançar este resultado por diferentes processos, que transformam o indivíduo. Sensações externas misturam-se à autoconsciência, e o sentido íntimo aperfeiçoa-se, de maneira que a luta pela vida, que exige renovação, encontre o bem-estar em todas as fases existenciais.
Buscar novas realidades que favoreçam a serenidade faz parte da inquietação do ser humano. Parecem pontos contraditórios, mas não são. É uma necessidade de aperfeiçoamento, que deve encontrar um equilíbrio, diferente para cada ser. E o equilíbrio gera serenidade, que influencia a saúde e o bem estar de cada um.
Contém trechos extraídos do TCC de especialização em Saúde da Pessoa Idosa e Gerontologia, de mesma autoria deste blog.
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